-Sobre o que é o livro que tu ta lendo moça?
-Sobre vampiros.
-Mas é vampiro de verdade?
-Não, é só ficção.
-ahhhh... Tu estuda moça?
-Sim.
-Estuda o que?
-Artes visuais.
-Mas tu ta na pública?
-Não.
-Tu já viu que na pública tem cota pra gente escura?(gente escura???heim????quem ensinou isso à ele???)
-Já. Mas acho tudo isso uma grande besteira. Apenas mais uma forma de preconceito.
Foi ai que a conversa acabou. Foi ai que o tio do meu lado, que não sei de onde vinha, mas que falava de um jeito estranho, desistiu de tentar puxar assunto comigo. Já haviam ocorrido outras tentativas anteriormente, do tipo "Pra onde você vai?", mas sem sucesso. Eu estava absorvida de mais pelo livro e sou anti-social de mais pra conversar com um estranho dentro de um ônibus com rumo ao interior.
Estava a caminho da casa de minha vó, no início de julho, férias de inverno. Não pensei muito antes de ir. Pra muitos pode ser normal. No meu caso, é estranho. Sempre pensei de mais. Parei com isso.
Quando cheguei à cidade de minha vó e desci do ônibus naquele lugar pequeno e cheio de neblina as 10:20 na manhã, parei e percebi que era a primeira vez que eu viajava sozinha. Não sozinha apenas sem família, mas sozinha sem família, amigos, namorado e companhias limitadas. Até o momento estava me achando velha por ter 23 anos. Então lembrei que se eu decidisse fazer isso em outra época, jamais me permitiriam.
E é assim que eu percebi que não estou ficando velha e sim livre. É assim que o mundo nos da um banho de água quente e nos tira do gelo. É assim que podemos ir e vir pra onde quisermos... mesmo sem saber pra onde. É assim que fazemos nosso futuro, trilhando por muitos caminhos. É assim que eu percebi que a cidadezinha a qual eu achava chata, quando era criança, é na verdade muito confortável e perfeita pra descansar. É assim que vi que tenho muito em comum com minha vó, quando achava que não tinha nada. É assim que podemos soltar nossas opiniões em ônibus de viagem e encarar as caras feias e risadinhas a parte, sem sua mãe ao lado dizendo "Cadê a educação que eu te dei?". É assim que eu sei que posso fazer minhas próprias escolhas a hora que eu quiser e quando me der vontade.
Débora Souza - 06.08.09
Que legal esse post.
ResponderExcluirUma vez eu estava no ônibus (também indo para o interior) e um tiozinho veio falar comigo sobre o assunto que eu estava lendo na revista, mas foi legal. =D
Um beijo
Adorei esses escritos. Um misto de descoberta, redescoberta, saudade, liberdade e vontade de caminhar mais e mais... Ir além...
ResponderExcluirBeijinhos
Ahh!! Havia me esquecido...
ResponderExcluirO que é a miopia pra quem enxerga mesmo sem querer ou poder? Risos
Viu aí muito mais do que um simples passeio... Porque você sentiu.
Outros beijinhos
...e assim descobrimos que, somos em primeiro lugar, nossa melhor companhia.
ResponderExcluirBoa semana !
Estar livre é a melhor coisa do mundo....todos precisamos de um momento a sós conosco mesmos...
ResponderExcluirBoa semana!!!
otimo post querida.
ResponderExcluirRealmente descobrir que podemos tudo sem se preocupar com a opiniao dos outros demora mas quando descobrimos que podemos tomar atitudes como esta...nos sentimos mais adultos mais humanos conosco.
Quanto a cota isso é pergunta?? que besta esse sr. Já reparou que o preconceito não esta em quem é de cor e sim nos que nos rodeiam.
Ja me falaram que eu deveria tentar Federal pela cota..ai odiei isso..fiz vestiba e passei numa paga e paguei com meu dinheiro. Hj tenho as coisas e ninguem pode dizer tadinha conseguiu só pq é "de cor". Tenho tanto merito quanto qualquer um. Francamente esse negocio de cotas queima o filme legal. Logico acho justo quem estudou numa escola publica a vida toda ter direito a cota, mas por causa da cor...acho forçar demais.
Querida tem selo pra vc no meu blog
beijao