Foi ai que a conversa acabou. Foi ai que o tio do meu lado, que não sei de onde vinha, mas que falava de um jeito estranho, desistiu de tentar puxar assunto comigo. Já haviam ocorrido outras tentativas anteriormente, do tipo "Pra onde você vai?", mas sem sucesso. Eu estava absorvida de mais pelo livro e sou anti-social de mais pra conversar com um estranho dentro de um ônibus com rumo ao interior.
Estava a caminho da casa de minha vó, no início de julho, férias de inverno. Não pensei muito antes de ir. Pra muitos pode ser normal. No meu caso, é estranho. Sempre pensei de mais. Parei com isso.
Quando cheguei à cidade de minha vó e desci do ônibus naquele lugar pequeno e cheio de neblina as 10:20 na manhã, parei e percebi que era a primeira vez que eu viajava sozinha. Não sozinha apenas sem família, mas sozinha sem família, amigos, namorado e companhias limitadas. Até o momento estava me achando velha por ter 23 anos. Então lembrei que se eu decidisse fazer isso em outra época, jamais me permitiriam.
E é assim que eu percebi que não estou ficando velha e sim livre. É assim que o mundo nos da um banho de água quente e nos tira do gelo. É assim que podemos ir e vir pra onde quisermos... mesmo sem saber pra onde. É assim que fazemos nosso futuro, trilhando por muitos caminhos. É assim que eu percebi que a cidadezinha a qual eu achava chata, quando era criança, é na verdade muito confortável e perfeita pra descansar. É assim que vi que tenho muito em comum com minha vó, quando achava que não tinha nada. É assim que podemos soltar nossas opiniões em ônibus de viagem e encarar as caras feias e risadinhas a parte, sem sua mãe ao lado dizendo "Cadê a educação que eu te dei?". É assim que eu sei que posso fazer minhas próprias escolhas a hora que eu quiser e quando me der vontade.